terça-feira, 19 de maio de 2009

São fortes as perspectivas de as eleições para o Parlamento Europeu virem a registar a taxa de abstenção mais alta de sempre

Segundo um estudo do Eubarómetro Primavera divulgado no passado mês de Abril, os cidadãos dos 27 estados membros da União Europeia mostram-se pouco interessados nas eleições para o Parlamento Europeu que terão lugar logo princípio do próximo mês de Junho.

Segundo o mesmo estudo e não fugindo à regra, Portugal apresenta uma das mais baixas percentagens de eleitores que tencionam ir às urnas, ficando-se pelos 24%.

Com um registo inferior à percentagem portuguesa estão o Reino Unido (22%), a Áustria (21%) e a Polónia (13%).

Como sempre acontece em todos os actos eleitorais, é natural que no dia das eleições os dados recolhidos venham a ser substancialmente diferentes das percentagens reveladas em Abril.

Perante tal cenário, há uma questão que deve preocupar os responsáveis de Bruxelas: o que motivará este desprezo em larga escala pelas eleições para o próximo Parlamento Europeu?.

Esta é uma pergunta para a qual haverá certamente várias respostas que se prendem com o actual estado económico, social, laboral e cultural da Europa dos 27.

Para melhor percebermos o teor dessas respostas convém recordarmos qual foi o programa que deu origem à formação da antiga Comunidade Económica Europeia, há uns anos substituída pela União Europeia.

Esse programa apontava para a integração dos estados numa organização cuja política comum fosse a traçada por Bruxelas, a qual apontava para o desenvolvimento harmonioso do Velho Continente em todas as vertentes da vida humana.

Isto significa que, apesar do avanço industrial e científico de países como a Alemanha e a França, a redistribuição de riqueza dentro das fronteiras europeias faria com que os estados mais pobres aderentes aquela organização pudessem, a curto ou a médio prazo, tornarem-se mais evoluídos e o fosso que separa o estados da linha da frente dos estados mais pobres fosse significativamente encurtado.

Como bem sabemos, a união política, económica e mais tarde monetária da União Europeia fez com que se operasse uma verdadeira revolução na Europa.

Em dada altura dava a sensação que a então Europa dos 12 tinha fundos para tudo e mais alguma coisa, daí que os países que se tornaram independentes após a implosão da antiga União Soviética tenham todos vindo bater à porta de Bruxelas pedindo a sua entrada no “clube Europa”.

É inegável que fundos provenientes da União Europeia contribuíram de sobremaneira para retocar muitos desses países com a construção de novas infraestruturas viárias e pontes, com a proliferação de cursos de qualificação profissional ou com a injecção de fundos para reactivação das respectivas economias.

Tudo isto tem – e continua a ter – um preço muito elevado.

Esse preço é político e é também económico e financeiro e está justificado no facto de a União Europeia nunca ter deixado de andar a reboque dos Estados Unidos da América, sobretudo na esfera política e económica.

Quer queiramos quer não, no plano de política internacional e salvo raríssimas excepções que confirmam a regra, a União Europeia nunca deixou de ser o eco de Washington e da Nato, e o euro nunca deixou de estar hipotecadado ao dólar, mesmo quando a moeda europeia valia bem mais que a moeda americana.

A prová-lo está o facto de a economia americana e a economia europeia terem entrado em recessão ao mesmo tempo.

Para este facto não contribuiu somente a falência completa da banca dos EUA e do sistema financeiro deste país, contribuiu de maneira mais decisiva o facto de a política praticada na Europa ter saído da mesma cartilha de onde saíram os compêndios que regem a política norte-americana.

Com mais guinada à direita ou com menos guinada à direita, Europa e EUA têm sido governados nas últimas décadas por uma política neo-liberal, no caso europeu, e liberal, no caso americano, políticas estas que conduziram milhões de pessoas ao desemprego, à precaridade no trabalho, à manutenção de ordenados não compatíveis com as necessidades sociais e à mais execrável política laboral onde o lucro das multinacionais está acima de todos os objectivos.

O resultado deste triste cenário está bem à vista de todos nós: aumento de suicídos, aumento do número de famílias pobres em toda a Europa dos 27, encerramento de fábricas, despedimentos colectivos sem conta nem medida, aumento da corrupção, aumento da delinquência e da criminalidade, aumento da perseguição sobre as minorias étnicas, sobretudo sobre os imigrantes, etc., etc, etc...

Perante a situação grave porque o mundo ocidental está a passar, nomeadamente os estados membros da União Europeia, qual é a motivação que pode levar os cidadãos às urnas?.

Obviamente, nenhuma!

Depois de tantas promessas, tantos sorrisos, tantas palavras aparentemente positivas que posteriormente vieram revelar-se ocas e sem sentido, a resposta dos europeus está à vista.

A perspectiva é a de que as próximas eleições para o Parlamento Europeu venham a registar a taxa de abstenção mais alta de sempre.

Estavam à espera de quê?.

 

Francisco Balsinha

 

domingo, 17 de maio de 2009

PAÍS A SAQUE E A CAMINHO DA RUÍNA

A depressão económica que agora se inicia no mundo capitalista pode ser agravada ou amenizada pelas políticas dos governos nacionais. No caso português, o governo do sr. Sócrates parece apostado em agravá-la ao máximo. Fecham empresas todas as semanas, aumenta o desemprego, os défices tornam-se assustadores, a dívida externa agrava-se a níveis monstruosos, mas ele permanece impávido nos seus projectos ruinosos – como o novo aeroporto, TGV, terceira ponte sobre o Tejo, o super-hospital de Todos os Santos, etc, etc. Enquanto isso, as universidades vivem à míngua, maternidades e centros de saúde são encerrados, as pensões de reforma são uma miséria, a repartição do rendimento é a pior de todos os países da Europa (a do Leste inclusive).
O custo do novo aeroporto está agora orçamentado em €5 mil milhões. E, como toda a gente sabe, os orçamentos têm o hábito de fazer derrapagens da ordem dos 40, 50 ou mais por cento. Ao mesmo tempo, este governo autista e de lesa economia nacional ignora deliberadamente a realidade do Pico Petrolífero. Como se os preços momentaneamente baixos do barril – devido em parte à recessão económica – pudessem perdurar para sempre (o banqueiro M. Simmons prevê uma alta significativa dentro de seis a nove meses). E mesmo com os actuais preços baixos do barril, a TAP acaba de anunciar que foi obrigada a cancelar 2400 voos no 2º semestre de 2009. Hoje, até mesmo altos dirigentes de companhias de petróleo recomendam "poupar, poupar, poupar" . Mas governos ao serviço dos grandes empreiteiros fazem orelhas moucas. Quem porá cobro a isto? Continua a ser mais válido do que nunca assinar a Petição contra o novo aeroporto.

In: www.resistir.info

domingo, 10 de maio de 2009

O cinismo continua

Depois de já ter passado mais de uma semana sobre os incidentes protagonizados na manifestação do 1º. de Maio deste ano a propósito da visita extemporânea de Vital Moreira aquele evento, o cabeça de lista do PS às eleições para o Parlamento Europeu continua a dizer que espera um pedido de desculpas por parte do PCP a propósito daquilo a que chama as malfeitorias de que foi alvo.
Empregando esta palavra, malfeitorias, Vital Moreira chama de malfeitores os trabalhadores que não admitiram a sua presença na iniciativa da CGTP.
Como já deixei entender em outro artigo publicado neste blog, a visita do ilustre constitucionalista à referida manifestação, não passou de uma manobra cínica de quem tinha um de dois objectivos:
A) tentar de forma suez insinuar-se como homem de esquerda junto da verdadeira esquerda e aí tentar ganhar alguns votos;
B) provocar quem já está farto de ser provocado pelo Governo e, dessa forma, fazer-se posteriormente passar por vítima, sabendo de antemão que a sua presença iria criar reboliço. Quando vos escrevo estas palavras, não estou certo de qual desses dois objectivos alimentou a acção política de Vital Moreira ao tomar aquela atitude. Do que estou certo é que o agora cabeça de lista dos socialistas às eleições para o Parlamento Europeu deixou definitivamente de fazer parte da esquerda e passou a fazer parte da direita travestida. Não pode ser de esquerda quem chama de malfeitores os trabalhadores. Essa visão é, e sempre foi, a visão da direita mais retrógrada, ligada ao grande capital nacional e multinacional, que vê nos trabalhadores apenas “animais de trabalho” e os trata como inimigos.

Carta aberta ao Dr. Vital Moreira
Não, dr. Vital Moreira, os trabalhadores não são malfeitores.
Eles são a força de trabalho que é capaz de transformar o mundo e que é capaz de levantar a economia deste país que tão mal tratada tem sido pelos seus novos amigos do PS.
Se o senhor ainda tiver algum discernimento para pensar, verá que os malfeitores deste país são os corruptos, os pedófilos, os políticos sem escrúpulos e toda a laia de tratantes que não se importa com o bem comum e que “trabalha” única e exclusivamente para alimentar o seu umbigo e distribuir tachos pelos amigos.
Não se deixe enganar. Não deixe que lhe acenem com este ou aquele poleiro e que com esse aceno lhe vendem os olhos.
No blog “Causa Nossa” o senhor afirma que o ódio “está na massa do sangue dos comunistas”.
Que tristeza, Dr. Vital Moreira.
Então o senhor já se esqueceu da Catarina Eufémia, do Bento Gonçalves, do Alfredo Dinis e de tantos outros.
É a heróis da luta antifascista como estes que citei que o senhor chama de odientos?.
Ou é aos militantes comunistas que, juntamente com militantes de outros partidos de esquerda, estão presentes no movimento sindical, no movimento associativo e em todos os movimentos que defendem a dignidade dos pobres e a melhoria de vida para todo o Povo?.
Pense bem, Dr. Vital Moreira, não embarque na verborreia política de algumas “picaretas falantes” da área política que o senhor agora frequenta, porque o senhor é um prestigiado professor da Universidade de Coimbra e um brilhante constitucionalista.
Faça jus ao seu imenso prestígio e não caia no ridículo.
No blog a que acima fiz referência, onde o senhor publica algumas das suas ideias, o dr. Vital Moreira afirma o seguinte; “o ódio a que eles deram largas é o mesmo que se pode ver em vários blogues de militantes comunistas contra mim. É uma questão de cultura partidária”.
Quero desde já esclarecê-lo, para que não lhe restem dúvidas, que não sou militante comunista nem de nenhum outro partido político.
Que ao escrever estas palavras que hoje publicarei no meu blog não estou movido por qualquer tipo de ódio ou de animosidade contra a sua pessoa.
Apenas me limitei a tecer algumas considerações, que considero justas, acerca do papel de vítima que o senhor e o PS querem fazer dos acontecimentos que vocês mesmos provocaram.
Mesmo não pertencendo à sua área política, gostava de um dia o encontrar e poder falar pessoalmente consigo.
Já sei que haveria muitas discordâncias políticas, mas, quem sabe, seria uma oportunidade de ouro para dois homens de bem trocarem ideias e desfazerem mitos.
Francisco Balsinha

domingo, 3 de maio de 2009

Vital Moreira na boca do lobo

O ex-deputado e dirigente comunista Vital Moreira, de quem antigamente se dizia que poderia suceder a Álvaro Cunhal no cargo de Secretário-Geral do PCP, mudou-se de armas e bagagens para a esfera política do Partido Socialista há cerca de 20 anos.

Esta mudança foi ditada pela sua consciência e ninguém pode ousar por em causa a sua decisão.

Diz o Povo na sua imensa sabedoria que “só os burros não mudam de opinião” e se em determinada altura Vital Moreira deixou de se rever no programa e na prática política do partido dos comunistas portugueses, a sua decisão de abandonar a militância política nesse partido só pode ser entendida como um acto de coragem e, ao mesmo tempo, como um virar de página nas suas convicções.

Recentemente, o PS anunciou publicamente que Vital Moreira é o cabeça de lista deste partido às eleições deste ano para o parlamento europeu.

A direcção do Partido Socialista convidou-o para ocupar a referida posição na sua lista e Vital Moreira aceitou, tendo este acordo sido celebrado dentro das mais elementares regras da democracia.

Ao aceitar desempenhar aquele papel político, o excelente constitucionalista ficou “agarrado” ao programa do PS e às posições dos dirigentes deste partido em relação a todos os aspectos da vida política, social e cultural do nosso país.

Como é do conhecimento de todos, a posição do partido de José Sócrates em relação ao movimento sindical português é de há muitos anos conhecida e a sua acção tem-se pautado pela divisão desse mesmo movimento, por críticas escabrosas e sem sentido à maior central sindical portuguesa, CGTP-Intersindical Nacional, e pelo apoio desvelado à UGT, organização que surgiu por vontade do PS e pela acção dos seus militantes.

Este ano, tal como sempre sucedeu após o surgimento da UGT, esta organização promoveu comemorações próprias de celebração do Dia do Trabalhador e a CGTP fez exactamente a mesma coisa. Para que melhor nos situemos em relação ao papel destas duas centrais sindicais, direi que a CGTP é uma organização de classe que agrupa sindicatos conotados com a luta geral dos trabalhadores e que a UGT não passa de um instrumento utilizado pela direita, PS incluído, para enfraquecer essa mesma luta.

Partindo desta realidade e das posições do PS já acima referidas quanto ao movimento sindical, foi com muita estranheza que se soube que Vital Moreira (um dos porta-vozes do Partido Socialista na actualidade) teve a infeliz ideia de querer desfilar na manifestação do 1º. de Maio organizada pela Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses – Intersindical Nacional.

Estou em crer que o que o cabeça de lista do PS às próximas eleições para o PE pretendia era tentar mostrar aos eleitores de esquerda que também continua a ser de esquerda e assim ganhar alguns votos entre os potenciais eleitores dessa área política.

Com esta atitude pouco ponderada, o que Vital conseguiu foi que corressem com ele da manifestação e lhe “chagassem” os ouvidos com gritos de traidor e de outras palavras semelhantes.

Outra coisa, aliás, não seria de esperar.

Vital Moreira já esteve do lado de cá da barricada, ou seja, do lado dos trabalhadores, mas, neste momento, está do lado da política de direita que tem levado o país à ruína.

Por esse motivo, os seus amigos políticos e camaradas já não são os trabalhadores, são os representantes do grande capital nacional e internacional.

Esta circunstância obriga Vital Moreira a reposicionar-se politicamente e a ter que ir “apregoar” as loas programáticas do PS nas iniciativas deste partido ou nas iniciativas da UGT.

Quando pretender falar para fora dessa área política terá que fazê-lo através da televisão e de outros meios de comunicação social, não voltando a invadir fisicamente espaços políticos que não são aquele em que está inserido.

A propósito da “corrida em osso” que Vital Moreira levou na manifestação do Dia do Trabalhador organizado pela CGTP, veio José Sócrates a terreiro debitar que tudo não passou de uma vil escaramuça levada a cabo por militantes comunistas pelo que, no seu entender, o PCP deveria pedir desculpas públicas a Vital Moreira.

È claro que com estas palavras o Secretário-Geral do PS não fez mais que mostrar aos portugueses a sua já conhecida idiotice.

Idiotice essa que também ficou patente quando mandou, ou permitiu, que o seu cabeça de lista às eleições europeias se fosse meter na boca do lobo, ainda para mais com o passado político que Vital Moreira ostenta.

Quanto ao pedido de desculpas por parte do PCP, Jerónimo de Sousa já garantiu que o mesmo nunca terá lugar e, do meu ponto de vista, está certa a posição deste partido, porque se houvesse pedido de desculpas seria o mesmo que admitir que a expontaneidade popular de rejeição que se gerou com a presença de Vital Moreira naquela manistação teria sido organizada e encorajada pelo partido, algo que de facto não se passou.


Francisco Balsinha