domingo, 21 de dezembro de 2008

Há comentadores políticos que sofrem de "miopia" intelectual

Numa das suas intervenções semanais no “Jornal Nacional” da TVI, o comentador político Vasco Polido Valente, falando sobre a actual conjuntura económica nacional e internacional, afirmou que o capitalismo está de boa saúde e deu a entender que este sistema está para durar e é insubstituível.
Vasco Polido Valente fez esta afirmação sabendo de antemão que a economia dos Estados Unidos da América está falida, que a economia da Europa dos 27 está a enfrentar graves problemas com alguns países a apresentarem quadros de recessão económica, que muitas das pequenas e médias empresas do mundo ocidental estão à beira da falência técnica ( as que não faliram já ), que o número de desempregados nos EUA e na Europa ascende a vários milhões, que as famílias estão fortemente endividadas, que a banca nacional e internacional está a passar pela maior crise da sua história... enfim, sabendo de estas e de outras situações que deveriam levá-lo a ser mais ponderado nas afirmações que faz.
Torna-se óbvio que o comentador em causa poderá argumentar em sua defesa que quando fez o referido comentário não estava de posse de elementos que o pudessem levar a ser mais realista no seu ponto de vista.
Contudo, se não sabe o que se passa à sua volta e que tem sido tão badalado nas televisões, nos jornais e nas rádios do mundo inteiro, é legítimo concluir-se que poderá ser tudo na vida, menos comentador político e logo da Tvi, um dos três canais de maior audiência em Portugal.
Analisando este caso numa outra prespectiva – a minha prespectiva – poder-se-á também concluir que Vasco Polido Valente, assumindo aquilo que sempre foi, um homem de direita confuso que as mais das vezes tem muitas dificuldades em interpretar o que o rodeia, políticamente falando, terá querido dizer com as palavras a que fiz referência no início desta peça, que os capitalistas estão bem e se recomendam e que o seu poder económico e político está para durar.
Se foi isto que quis dizer estamos completamente de acordo, já que as grandes fortunas continuam a existir e para que as mesmas subsistam os pobres estão cada vez mais pobres.
No entanto, como não devemos fazer como a avestruz e meter a cabeça num buraco para não ver o que se passa à nossa volta, devemos estar atentos aos sinais da grande crise económica internacional, analisando-a e comparando-a à luz da história.
Se o fizermos, facilmente constataremos que o sistema capitalista está em agonia e que, embora estejam a tentar remendá-o, daqui para a frente nada será como antes.
A fome e a miséria a que estão votados muitos milhares de cidadãos no mundo ocidental, o desemprego, a limitação cada vez maior dos direitos dos trabalhadores e a firme oposição à continuação das guerras no Iraque e no Afganistão, entre outos pressupostos, estão a fazer despertar consciências que farão alterar a correlação de forças até aqui exstente entre o grande capital e o mundo do trabalho e dos pequenos e médios empresários.
São estes indesmentíveis factos que justificam a afirmação de que daqui para a frente nada será como antes.
Mesmo assim, será precipitado concuir-se que as monstruosas contradições do sistema do capital poderão gerar no imediato ou a curto prazo condições objectivas para o avanço para uma situação pré-revolucionária em algumas partes do planeta. A Cia, o FBI e outros serviços de inteligência do mundo ocidental estão mais atentos que nunca e prontos para reprimir, às claras ou de maneira camuflada como é seu timbre, qualquer movimento popular que queira fazer evoluir para outro patamar histórico a decadente sociedade em que vivemos.
Voltando ainda a Vasco Polido Valente e ao seu comentário feito na Tvi, este comentador político (?) teve também o desplante de afirmar que as actuais contradições do sistema económico ocidental não foram previstas por Karl Marx nem estão de acordo com as conclusões do mesmo. Neste caso, apetece perguntar ao Valente se alguma vez leu Karl Marx?.
Ele até poderá argumentar que sim, no entanto, se o fez utilizou o ponto de vista dos grandes ideólogos do capitalismo que recusam liminarmente todos os conceitos que apontem para uma sociedade mais justa e com mais equitativa distribuição da riqueza.



Francisco Balsinha