domingo, 3 de maio de 2009

Vital Moreira na boca do lobo

O ex-deputado e dirigente comunista Vital Moreira, de quem antigamente se dizia que poderia suceder a Álvaro Cunhal no cargo de Secretário-Geral do PCP, mudou-se de armas e bagagens para a esfera política do Partido Socialista há cerca de 20 anos.

Esta mudança foi ditada pela sua consciência e ninguém pode ousar por em causa a sua decisão.

Diz o Povo na sua imensa sabedoria que “só os burros não mudam de opinião” e se em determinada altura Vital Moreira deixou de se rever no programa e na prática política do partido dos comunistas portugueses, a sua decisão de abandonar a militância política nesse partido só pode ser entendida como um acto de coragem e, ao mesmo tempo, como um virar de página nas suas convicções.

Recentemente, o PS anunciou publicamente que Vital Moreira é o cabeça de lista deste partido às eleições deste ano para o parlamento europeu.

A direcção do Partido Socialista convidou-o para ocupar a referida posição na sua lista e Vital Moreira aceitou, tendo este acordo sido celebrado dentro das mais elementares regras da democracia.

Ao aceitar desempenhar aquele papel político, o excelente constitucionalista ficou “agarrado” ao programa do PS e às posições dos dirigentes deste partido em relação a todos os aspectos da vida política, social e cultural do nosso país.

Como é do conhecimento de todos, a posição do partido de José Sócrates em relação ao movimento sindical português é de há muitos anos conhecida e a sua acção tem-se pautado pela divisão desse mesmo movimento, por críticas escabrosas e sem sentido à maior central sindical portuguesa, CGTP-Intersindical Nacional, e pelo apoio desvelado à UGT, organização que surgiu por vontade do PS e pela acção dos seus militantes.

Este ano, tal como sempre sucedeu após o surgimento da UGT, esta organização promoveu comemorações próprias de celebração do Dia do Trabalhador e a CGTP fez exactamente a mesma coisa. Para que melhor nos situemos em relação ao papel destas duas centrais sindicais, direi que a CGTP é uma organização de classe que agrupa sindicatos conotados com a luta geral dos trabalhadores e que a UGT não passa de um instrumento utilizado pela direita, PS incluído, para enfraquecer essa mesma luta.

Partindo desta realidade e das posições do PS já acima referidas quanto ao movimento sindical, foi com muita estranheza que se soube que Vital Moreira (um dos porta-vozes do Partido Socialista na actualidade) teve a infeliz ideia de querer desfilar na manifestação do 1º. de Maio organizada pela Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses – Intersindical Nacional.

Estou em crer que o que o cabeça de lista do PS às próximas eleições para o PE pretendia era tentar mostrar aos eleitores de esquerda que também continua a ser de esquerda e assim ganhar alguns votos entre os potenciais eleitores dessa área política.

Com esta atitude pouco ponderada, o que Vital conseguiu foi que corressem com ele da manifestação e lhe “chagassem” os ouvidos com gritos de traidor e de outras palavras semelhantes.

Outra coisa, aliás, não seria de esperar.

Vital Moreira já esteve do lado de cá da barricada, ou seja, do lado dos trabalhadores, mas, neste momento, está do lado da política de direita que tem levado o país à ruína.

Por esse motivo, os seus amigos políticos e camaradas já não são os trabalhadores, são os representantes do grande capital nacional e internacional.

Esta circunstância obriga Vital Moreira a reposicionar-se politicamente e a ter que ir “apregoar” as loas programáticas do PS nas iniciativas deste partido ou nas iniciativas da UGT.

Quando pretender falar para fora dessa área política terá que fazê-lo através da televisão e de outros meios de comunicação social, não voltando a invadir fisicamente espaços políticos que não são aquele em que está inserido.

A propósito da “corrida em osso” que Vital Moreira levou na manifestação do Dia do Trabalhador organizado pela CGTP, veio José Sócrates a terreiro debitar que tudo não passou de uma vil escaramuça levada a cabo por militantes comunistas pelo que, no seu entender, o PCP deveria pedir desculpas públicas a Vital Moreira.

È claro que com estas palavras o Secretário-Geral do PS não fez mais que mostrar aos portugueses a sua já conhecida idiotice.

Idiotice essa que também ficou patente quando mandou, ou permitiu, que o seu cabeça de lista às eleições europeias se fosse meter na boca do lobo, ainda para mais com o passado político que Vital Moreira ostenta.

Quanto ao pedido de desculpas por parte do PCP, Jerónimo de Sousa já garantiu que o mesmo nunca terá lugar e, do meu ponto de vista, está certa a posição deste partido, porque se houvesse pedido de desculpas seria o mesmo que admitir que a expontaneidade popular de rejeição que se gerou com a presença de Vital Moreira naquela manistação teria sido organizada e encorajada pelo partido, algo que de facto não se passou.


Francisco Balsinha

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