quinta-feira, 5 de março de 2009

A falsa guinada à esquerda



Prezados amigos leitores, como certamente já deram conta, nos últimos dias não tenho escrito com a periodicidade que o costumo fazer, o que tem levado a que este blog não tenha sido actualizado com tanta frequência como antes.
Este facto não deriva de qualquer menor interesse no blog ou a menos atenção em relação a tudo o que se vai passando à nossa volta.
Esta paragem por alguns dias deu-se pelo facto de querer documentar-me melhor sobre o que a classe política portuguesa vai dizendo na sua vã tentativa de enganar os menos avisados e de fazer dourar a pílula mágica que dizem ter em seu poder para fazer o país sair do fosso económico em que se encontra.
Uma ideia comum que tenho ouvido com alguma assiduidade nestes dias é a de que a política portuguesa, europeia e americana vai dar aquilo que chamam de uma guinada à esquerda.
Em Portugal já se referiram a este assunto, entre outras personalidades, José Sócrates, Almeida Santos e Mário Soares.
No caso português, que é aquele que mais nos importa, convém descodificarmos o que significa esta suposta e apregoada viragem à esquerda.
Antes de mais, em linguagem politica comum, virar políticamente à esquerda significa a adopção de uma nova política que faça diminuir o grau das desigualdades sociais e a aplicação de um conjunto de leis e medidas que tenham em vista a melhoria real das condições de vida dos trabalhadores, dos jovens, dos idosos, das mulheres, dos desempregados e, de um modo geral, dos mais desfavorecidos da sociedade.
Acreditar que este ou o próximo Governo Sócrates são capazes de tamanha inversão de percurso político seria o mesmo que acreditar que a Terra vai algum dia parar de girar à volta do seu eixo.
Esta afirmação é feita com base nas ideias, no programa de Governo e na prática política posta em prática nos últimos quase quatro anos pelo Partido Socialista.
Mas já que os seus dirigentes apregoam a tal guinada política à esquerda, vamos tentar compreender em que moldes a mesma se dará...!
Será que essa guinada à esquerda vai fazer com que melhorem os salários dos trabalhadores e em consequência o rendimento per capita dos mesmos?.
Estou plenamente convencido que não!
Será que providenciará melhores serviços de saúde gratuítos para toda a população?.
Não me parece!. Aliás a prática política no sector da saúde tem sido precisamente contrária a este objectivo.
Será que os nossos idosos vão passar a gozar de melhores pensões e subsídios, de forma a que gozem o último terço da vida de maneira mais desafogada no aspecto económico?.
Tenho a certeza que não!. Este e o próximo Governo não mexerão uma palha quanto a este assunto, tal como têm feito até aqui.
Será que vai ser implementada alguma política laboral que priveligie bonificações a sério para o 1º. emprego e para o emprego feminino?.
Não, também não acredito que seja nestes sectores que a tal política de esquerda venha a ser aplicada.
Será que, numa medida de regulação da sociedade, as grandes fortunas e as grandes multinacionais vão passar a ser mais oneradas pelo Estado, enquanto que as pequenas e médias empresas, os trabalhadores e a classe média vão passar a pagar menos impostos?.
Lamento, mas também não acredito neste hipótese!
Assim sendo, onde é que está a tal guinada à esquerda de que tanto falam?.
Passo a explicar o que, no meu ponto de vista, tais palavras significam.
Como sabemos, a direita, incluindo o Partido Socialista, é claramente adepta de uma economia onde o mercado seja o grande regulador.
Isso sgnifica que a regulação da sociedade é feita tendo em atenção o desenvolvimento desse mesmo mercado – capitalista – onde os mais poderosos vão enriquecendo cada vez mais e ditando as leis económicas e laborais por que se rege a sociedade.
Este tipo de organização económica é que leva ao surgimento das crises e à proliferação do desemprego.
Por outro lado, a esquerda – a verdadeira esquerda – defende que o Estado devia ser o regulador da sociedade, cabendo-lhe ainda o papel de alavanca económica, através da administração de sectores lucrativos, cujos lucros deveriam ser aplicados no bem estar de toda a população.
Na optica da esquerda, a meu ver correcta, quanto mais intervenção do Estado no sector produtivo melhor, porque será o Estado a gerar mais emprego e, para além do que já deixei expresso no parágrafo anterior, a deter nas suas mãos os sectores mais importantes da economia.
Claro que para isso seria necessária uma melhor qualificação profissional dos quadros e dos trabalhadores que passariam a estar ao seu serviço.
No entanto, tenho como certo que não devemos fazer grandes conjecturas mediante este quadro político, porque jamais o PS o levará à prática.
Tal forma de abordar políticamente a sociedade nunca esteve no seu programa nem em caso algum estará.
O PS é um partido que de socialista só tem o nome, já que a sua prática está radicada nos ideiais reformadores da social-democracia.
Sendo assim, rejeitando o partido do Governo uma maior intervenção do Estado na economia, como é que se vai dar a tal viragem política à esquerda?.
De maneira muito simples.
Como sabemos existem grandes empresas – e não são só bancos – que estão em completa falência técnica.
Para salvar essas empresas, o Estado, através da Caixa Geral de Depósitos ira provavelmente comprar o seu capital social.
Com esta medida, tal como já aconteceu com um banco privado, o Estado ficará detentor de empresas deficitárias, algumas delas com dívidas acumuladas.
A viragem à esquerda é essa!
O Estado assume um maior papel na economia, mas só o faz nos sectores onde não há lucros, sendo os contribuintes a pagar não só a recuperação dessas empresas como todas as dívidas subjacentes às mesmas.
Esta alegada viragem á esquerda é um embuste e só existe na boca de alguns políticos.
A prová-lo, mais tarde cá estaremos para ver que essas empresas uma vez recuperadas com dinheiro de todos nós, acabarão por ir outra vez parar às mãos dos grandes grupos económicos.
Só que nessa altura, os lucros que voltarão a dar irão para os bolsos dos capitalistas e não para o bem estar do Povo ou para a criação de novos postos de trabalho.
Se alguém tem dúvidas do que acabei de afirmar, guarde este escrito bem guardado e dê tempo ao tempo.
Infelizmente, mais cedo ou mais tarde, virá a dar-me razão.

Francisco Balsinha



Sem comentários:

Enviar um comentário