segunda-feira, 2 de março de 2009

KEYNESIANISMO COXO

Falar em medidas para a "saída da crise" no âmbito do capitalismo é um erro, pois elas não existem. A verdadeira saída é transcender o modo de produção capitalista. Entretanto, podem-se falar em medidas que amenizariam a crise para os trabalhadores. Estas resolvem-se a favor de umas classes e contra outras. As medidas de amenização nunca são neutras. Em Portugal, o governo do sr. Sócrates já começou a tomá-las. Concedeu ajudas elevadas aos banqueiros e, para a economia real, fala em reactivar o investimento público. Trata-se de um keynesianismo bastardo adoptado à última hora por um governo que desde sempre praticou uma política neoliberal. A tradução de "investimento público" para o sr. Sócrates é lançar mega-projectos absurdos como o do novo aeroporto, TGV e terceira ponte sobre o Tejo. É um programa ruinoso porque no caso de Portugal um eventual aumento do PIB não se traduziria no bem estar do seu povo. Encareceria o crédito para as PMEs, aumentaria brutalmente o nível já elevado da dívida externa do país e não activaria o debilitado tecido produtivo nacional (quase tudo nesses projectos seria importado). Além disso, não se pode esquecer que aquilo que realmente importa para o bem estar do povo português não é o PIB e sim o Rendimento Nacional Bruto a preços de mercado. Por outras palavras, o Produto Nacional Bruto. A equação é PNB = RNBpm = PIB + Balança de Rendimentos. Esta última tem-se tornado cada vez mais deficitária a cada ano que passa e os tais "grandes projectos" do sr. Sócrates agravariam ainda mais esta situação. Assim, um crescimento do PIB português poderia resultar num crescimento negativo do RNB. O que fazer então para amenizar a crise? A resposta correcta é um aumento imediato e significativo do Rendimento Disponível do povo português. Isto significa aumento imediato dos salários e pensões de reforma, assim como o desagravamento da carga fiscal que pesa sobre o trabalho. Contribuiria para desagravar a dívida interna das famílias, além de reforçar o mercado interno e a produção interna de bens e serviços. No imediato, e para começar, é isto que há a fazer.
(Artigo publicado no site www.resistir.info)

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