sábado, 4 de abril de 2009

Greve dos enfermeiros: um direito que lhes assiste... mas, cuidado!


A greve geral dos enfermeiros decretada para as últimas quinta e sexta-feira registou fortíssima adesão.
Esta greve esteve relacionada com a anunciada revisão que o Governo quer fazer no âmbito da legislação das carreiras dos profissionais de enfermagem, revisão essa que não colhe simpatia na esmagadora maioria dos enfermeiros, nem no sindicato que os representa.
Segundo a edição deste sábado do matutino “Correio da Manhã”, a greve acima referida fez paralizar os blocos cirúrgicos e os serviços de tratamentos de muitos hospitais, ao mesmo tempo que paralizou também um elevado número de centros de saúde a nível nacional.
Só no Centro Hospitalar de Lisboa Norte, que alberga os hospitais de Santa Maria e Pulido Valente, 143 cirurgias tiveram que ser canceladas devido à greve.
No Hospital Amadora-Sintra, no qual estava programada a realização de 80 cirurgias naqueles dois dias, nem uma foi efectuada.
De igual modo, nos hospitais algarvios, nem uma cirurgia foi realizada por não haver enfermeiros disponíveis para as necessidades.
E foi assim por todo o país do Minho ao Algarve.
Creio não restarem dúvidas para muita gente, entre os quais me incluo, que os motivos que levaram os enfermeiros à luta são mais que justos e que só através da luta conseguirão vergar o Governo às necessidades e anseios da classe.
Já não estou tão de acordo é com a forma como essa luta se manifestou, ou seja, através da greve.
Apesar dessa forma de luta ser legítima e estar consignada na Constituição da República Portuguesa, o seu uso deve ser sempre bem ponderado por causa dos efeitos que pode causar, sobretudo quando se trata da área da saúde, como foi o caso.
Entre quinta e sexta-feira passadas, o número de cirurgias que deixaram de se efectuar é de largas centenas, se não ultrapassar o milhar, facto que, necessáriamente, prejudicou os doentes que carecem desse tipo de tratamento médico.
Esses doentes estão na maioria dos casos à espera de serem operados há longos meses, quando nao há anos, e no dia em que era a sua vez, a operação não se consumou por causa de uma greve.
Acresce ainda que muitos dos doentes afectados padecem de maleitas que recomendam cirurgias no mínimo espaço de tempo possível, sendo que, o atraso agora verificado, somado a outros atrasos que são conhecidos (listas de espera), contribui para ajudar a complicar ainda mais a vida aos pacientes.
Reafirmo que o direito à greve por parte dos enfermeiros é perfeitamente legítimo, só que, no meu modo de ver, essa greve nunca poderia ter lugar nestes moldes.
Talvez se a greve fosse efectada parceladamente, ou seja, pelos enfermeiros de um determinado número de hospitais e centros de saúde de cada região num dia e nos dias subsquentes em outras unidades de saúde da mesma região, o registo do número de grevistas não fosse inferior e, desta forma, não se deixassem sem atendimento os utentes dos serviços de saúde do Estado.
Estes utentes pertencem à classe mais pobre do nosso país e, como não têm dinheiro, não há serviços médicos que lhes valham se não forem os do Serviço Nacional de Saúde.
Deixo aqui o meu alerta para esta situação, porque é essa a função do jornalista.
Aos profissionais a sério deste ofício importa dizer sempre a verdade e opinar sobre os casos que, como este, causam mossa na sociedade.

Francisco Balsinha

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