sexta-feira, 24 de abril de 2009

Mais cedo ou mais tarde os ideiais do 25 de Abril de 1974 serão cumpridos


Comemoram-se amanhã 35 anos sobre a passagem do dia 25 de Abril de 1974, data em que teve lugar o início da revolução mais bonita do século XX e, ao mesmo tempo, a revolução mais importante da História do nosso país.
Nesse dia, os militares sob o comando do Movimento das Forças Armadas saíram para a rua dispostos a derrubar o regime fascista que imperava em Portugal há quase 50 anos e, dessa forma, darem a machadada final na guerra colonial que opunha os povos das ex-colónias portuguesas ao regime de Salazar e Caetano.
Na data do arranque da Revolução dos Cravos Portugal era governado por um governo instrumentalizado pelos monopólios e latifúndios e a cegueira política das autoridades de então fazia com que o país vivesse à margem das leis e tratados internacionais, na mais pura pobreza e alimentando uma guerra com várias frentes, condenada ao fracasso.
Quando em 25 de Abril de 1974 os militares depuseram o regime retrogrado que oprimia os portugueses, houve lugar a uma aliança antes impensável, entre o Movimento das Forças Armadas e o Povo, o que fez com que os objectivos iniciais da revolução – derrube do regime como forma de acabar com a guerra – viessem a dar lugar a um programa politicamente muito mais avançado, que ficou definido como o programa revolucionário dos três d’s: Democratizar, Desenvolver e Descolonizar.
Logo a seguir ao 25 de Abril, como sucede em todas as revoluções, o movimento popular veio para a rua e tentou ser ele próprio a comandar as operações, pelo que foi impossível conter muitos excessos cometidos.
Por esses dias, nem o governo provisório que entretanto tomou posse, nem o Movimento dos Capitães, nem tão pouco os partidos políticos que passaram a trabalhar à luz do dia, conseguiram ter mão no movimento popular e travar algumas acções de todo despropositadas.
Convém ter em atenção que tudo isto se passou em clima revolucionário, ou seja, no momento em que as estruturas do estado fascista eram definitivamente abaladas e a nova ordem política ainda não estava devidamente estabelecida.
Nessa altura, todos os partidos políticos que entretanto tinham sido legalizados, apresentavam programas em que definiam para o nosso país o rumo ao socialismo.
Era assim o programa do PSD, do CDS, do PCP, do PS e de mais uns quantos partidos, da direita à extrema esquerda, que com a bandeira do socialismo tentavam arregimentar para si o maior número de apoiantes possível.
No decurso do processo revolucionário e como primeiro passo para a instituição da democracia no nosso país, tiveram lugar em 25 de Abril de 1975 as primeiras eleições livres para a futura Assembleia Constituinte, a qual tinha como objectivo elaborar a nova Constituição da Republica que consagrasse todas as conquistas políticas da revolução, tais como a jornada de trabalho de oito horas, o direito a férias e subsidio de férias e de Natal para todos os trabalhadores e as já previsíveis nacionalizações da banca, dos cimentos, dos seguros e de todos os sectores chaves da economia.
A nacionalização desses sectores seria o primeiro passo para a retirada de poder político e económico aos grandes capitalistas e latifundiários, fazendo com que os lucros apurados nas respectivas empresas fossem postos ao serviço da comunidade.
As eleições para a Assembleia Constituinte vieram a revelar-se um sério revês para a Revolução dos Cravos, porque os seus vencedores foram o Partido Socialista, chefiado por Mário Soares, um político ligado à ala direita da social democracia europeia e o PSD, partido membro da ala liberal do Velho Continente.
Apesar desses resultados eleitorais, a luta social e política assumiu proporções nunca vistas após o derrube do regime fascista.
À frente do Governo estava um Coronel do Exército, membro da ala progressista do MFA, Vasco Gonçalves.
Este homem do Povo, honesto nas suas convicções e heróico na sua acção, fez tudo o que estava ao seu alcance para dotar o nosso país de infra-estruturas económicas que, uma vez consignadas na Constituição, fossem os alicerces de um Portugal mais justo, onde os pobres, os reformados, as mulheres, os jovens e os trabalhadores pudessem vir a ter uma vida melhor.
Enquanto Vasco Gonçalves e a sua equipa de ministros trabalhavam em prol dos objectivos acima referidos, Mário Soares e os seus apoiantes trabalhavam na sombra para inviabilizar o cumprimento dos objectivos da Aliança Povo-MFA.
Tendo unicamente este objectivo em vista, Mário Soares desceu ao nível de um político traidor da sua Pátria, ao aliar-se nos seus intuitos anti-revolucionários aos EUA e, nomeadamente, ao Secretário de Estado Henry Kissinger e ao embaixador Frank Carlucci, à altura número dois da CIA, os facínoras que algum tempo antes tinham manobrado na escuridão para derrubar o Governo Socialista de Salvador Allende, no Chile, e para instalar o ditador Augusto Pinochet no poder.
É verdade, os aliados políticos de Mário Soares na sua cruzada contra a Revolução Democrática Portuguesa foram gente desta estirpe.
Gente conotada com a direita mais reaccionária da Europa e do Mundo, com experiência em derrubar regimes e por no poder políticos fantoches.
Hoje, quando se pretende apresentar o antigo secretário-geral do PS como um grande estadista e um homem firme nas suas convicções de liberdade, não posso deixar de me sentir enojado, por se estar a tentar branquear uma figura que é das mais sinistras de toda a História do nosso país.
Voltemos aos factos.
Em Setembro de 1975 Vasco Gonçalves foi destituído do lugar de primeiro-ministro.
Nessa altura, as divisões que existiam no seio dos militares e a divisão que proliferava no seio do movimento popular, comandadas pelas forças do grande capital nacional e internacional, faziam com que estes movimentos já não tivessem força para servirem de base de apoio aos Governos do Povo.
Mais tarde, Mário Soares viria a tomar posse, com pompa, circunstância, e por entre discursos balofos, onde palavras com sabor a mofo tomaram o lugar do sonho de um Portugal mais justo, mais fraterno e, sobretudo, mais igualitário.
De então para cá, entra governo e sai governo, mas a política não se altera.
E que política é essa?
É a política do faz de conta.
É a política daqueles que, dizendo governar a bem do Povo, foram abafando a pouco e pouco algumas das mais importantes conquistas da Revolução de Abril.
Passados 35 anos da Revolução do 25 de Abril de 1974, onde é que está o programa dos três d’s?
Foi deitado para o lixo.
Se hoje não existe ditadura, tal como a conhecemos durante 48 anos, existe um regime onde nos é permitido votar e falar - às vezes – mas onde a política levada a cabo há dezenas de anos é de cariz neo-liberal, o que significa que o objectivo é ir tapando aqui e ali uma ou outra necessidade do Povo, sem nunca por em causa as mordomias cada vez mais avantajadas dos grandes senhores do capital.
No que diz respeito ao desenvolvimento, estamos falados.
Na data da sua adesão à União Europeia, Portugal era o pais menos desenvolvido dessa organização.
Agora, em 2009, somos o país menos desenvolvido da Europa dos 27, tendo sido ultrapassados pelos países da Europa de Leste, que há meia dúzia de anos tinham economias perfeitamente estagnadas.
O último d do programa, o da descolonização, foi o único que se cumpriu cabalmente.
Não por qualquer atitude mais positiva dos políticos portugueses, mas antes por força da pressão internacional e pela atitude heróica dos movimentos de libertação das antigas colónias portuguesas, que souberam conduzir os seus países à completa independência política.
Daqui por muitos anos, quando se reescrever a História de Portugal, a Revolução do 25 de Abril será tomada como um exemplo de patriotismo dos que com ela cooperaram e como um exemplo de traição de todos os que se lhe opuseram.
Numa perspectiva histórica esta revolução não terminou, foi antes interrompida abruptamente pelas forças contrárias ao progresso e ao bem estar do Povo.
Mas qualquer dia, não sei quando nem como, a Revolução estará de volta.
Sabem porquê?
Porque com a miséria cada vez maior que graça no nosso país, com o despotismo, a corrupção, o compadrio e a mentira que assentaram arraiais neste nosso querido Portugal, chegará o momento em que os nossos concidadãos de bom senso não suportarão mais viver em tal imundície
Gostava de estar cá para ver... mas, se não estiver fisicamente, estarei em espírito, para apoiar a reconstrução do nosso Portugal adiado.


Francisco Balsinha

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