quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Mário Soares – uma excelente análise política da realidade portuguesa e europeia

Num artigo de opinião assinado pelo Dr. Mário Soares e publicado pelo “Diário de Notícias”, este antigo Primeiro-Ministro e Presidente da República chama a atenção do Governo português e das autoridades da União Europeia para aquilo que chamou de “clima de desconfiança e de revolta” instalados com a generalização da crise no Velho Continente.
Soares afirmou ainda que “Portugal não deverá ficar indiferente aos sinais à sua volta”, já que, reforçou, “com as desigualdades sociais sempre a crescer, o aumento do desemprego que previsivelmente vai subir imenso, em 2009, a impunidade dos banqueiros delinquentes, o bloqueio na Justiça, e em especial, do Ministério Público e das polícias, estão a criar um clima de desconfiança - e de revolta - que não augura nada de bom”.
De seguida o antigo Presidente da República aconselhou o Poder da seguinte forma: “oiçam-se as pessoas na rua, tome-se o pulso do que se passa nas universidades, nos bairros populares, nos transportes públicos, no pequeno comércio, nas fábricas e empresas que ameaçam falir, por toda a parte do País, e compreender-se-á que estamos perante um ingrediente que tem demasiadas componentes prestes a explodir”.
Devo confessar-vos que nunca fui adepto da forma de estar na política do Dr. Mário Soares, por achar que ele, enquanto esteve no Governo, nunca se preocupou com os trabalhadores, nem com os jovens, nem com as mulheres e os idosos.
Nessa altura, a sua acção política teve mais a ver com a destruição de algumas conquistas da Revolução do 25 de Abril de 1974 e com a degradação das condições de vida da população em geral.
Agora, já afastado dos cadeirões de S. Bento ou de Belém, Mário Soares tem tido intervenções públicas alinhadas mais à esquerda que o próprio partido que ajudou a fundar e tem apresentado, não raras vezes, conceitos e análises sobre a actualidade política nacional e internacional que poucos esperariam que fossem da sua autoria.
Incluo nessa lista o seu artigo de opinião a que acima faço referência.
Nele, Mário Soares dá mostras de ainda possuir uma grande capacidade de análise política, ao mesmo tempo que expõe as suas convicções de maneira a que ninguém lhes pode ficar indiferente.
Neste artigo de opinião, como já ficou subentendido, o antigo Secretário-Geral do Partido Socialista não se limita a chamar a atenção de Sócrates e seus pares. A sua “voz” vai mais longe ao criticar os líderes políticos da União Europeia “que «não pensam em mudar o paradigma ou não anunciam essa intenção e não explicam sequer aos eleitores comuns, os eternos sacrificados, como vão gastar o dinheiro que utilizam para salvar os bancos e as grandes empresas da falência, aparentemente deixando tudo na mesma?”.
Continuando a sua advertência, Mário Soares conclui: “e querem depois o voto desses mesmos eleitores, sem os informar seriamente nem esclarecer? É demais! É sabido: quem semeia ventos colhe tempestades...”.
Até hoje, nunca li nenhum artigo ou ouvi uma intervenção de Mário Soares com os quais me identificasse completamente.
O mesmo já não posso afirmar deste artigo de opinião, pelo que até me apetece “dizer”: que bom regresso à esquerda verdadeira Dr. Mário Soares.




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