domingo, 15 de fevereiro de 2009

Vem aí mais do mesmo...

Com a reeleição de José Sócrates para Secretário-Geral do Partido Socialista com um score de 96,43% dos votos resultantes das eleições internas realizadas anteontem e ontem, não se abre uma nova página na vida daquele partido, ao mesmo tempo que ficam a pairar nuvens bastante cinzentas no que diz respeito ao futuro imediato da política portuguesa.
O resultado final deste acto eleitoral ocorrido dentro das “paredes” do PS é tão respeitável como qualquer outro acto eleitoral que tenha decorrido sobre os princípios da democracia, mas esse facto não retira a possibilidade a que políticos, analistas e jornalistas retirem as devidas ilações decorrentes dessa circustância.
É isso precisamente o que me proponho fazer nesta peça.
Antes destas eleições internas já se sabia que Sócrates sucederia a Sócrates na liderança do Partido Socilalista, o que não se sabia e gerava até uma certa expectativa era o resultado que viria a ser obtido por alguma oposição, a qual tem vindo nos ultimos tempos a lançar recados para a sociedade e para dentro do PS, servindo-se para isso da comunicação social.
Como podemos constactar, essa oposição resume-se às vozes de Manuel Alegre e Helena Roseta, sendo que os mesmos não conseguiram fazer passar a sua mensagem para os militantes do partido de que são filiados.
A maior prova do que acabo de afirmar está consubstanciada no facto de os apoiantes da moção de José Sócrates “PS-A Força da Mudança”, terem conquistado 1700 lugares no congresso, enquanto que os apoiantes das duas moções rivais conquistaram apenas 22 lugares nesse mesmo congresso, que terá lugar nos próximos dias 27 e 28 deste mês de Fevereiro, e 1 do próximo mês de Março.
Estes resultados assumem carácter definitivo, ainda que faltem apurar os resultados da votação de 7 secções socialistas.
Com a obtenção de tão elevada votação, Sócrates calou definitivamente a sua oposição dentro do PS e deu à sociedade portuguesa um sinal insofismável de que tem o Partido Socialista nas suas mãos.
Em ano de eleições parlamentares e depois de quatro anos de governação que deixaram o país no miserável estado em que se encontra, esta votação socialista dá também um forte sinal à oposição – leia-se PSD - de que este partido é, para já, o único que se encontra unido à volta do seu líder e, por via disso, dispõe de uma maior conjugação de vontades que, unidas, levarão mais uma vez ao colo o PS e o seu líder para dentro do próximo Governo.
Ao contrário do que sucede num PSD profundamente dividido e em que alguns militantes tentam a todo o custo pôr-se em bicos de pés para enfraquecerem a sua líder, Manuela Ferreira Leite, o PS fala a uma só voz e essa voz é a do seu incontestado líder, José Sócrates.
Neste momento e embora o congresso do partido da rosa só tenha lugar em data já acima mencionada, a sua realização não causa quaisquer dores de cabeça à respectiva direcção, pelo que é de prever que, a partir de hoje, a preocupação maior dos dirigentes socialistas será a de falarem para fora do PS, numa antecipada campanha eleitoral.
Neste caso, perante o resultado da votação a que temos vindo a fazer referência, creio que a questão da maioria absoluta voltará outra vez a ser uma bandeira diária a agitar pelos dirigentes e militantes socialistas até à data das próximas eleições parlamentares.
Em face deste quadro, o PS ficou com via totalmente aberta para a reeleição de nova maioria absoluta.
Isto quererá dizer também que, com ou sem maioria absoluta, a linha política governativa praticada nos últimos quatro anos vai continuar a ser seguida, com todos os inconvenientes daí resultantes.
As questões do desemprego, do apoio às pequenas e médias empresas, da saúde, da educação, do salário mínimo nacional, das pensões e reformas da terceira idade, da falta de saídas profissionais para a juventude, do combate ao crime, da falta de apoio às forças de segurança e de uma melhor distribuição da riqueza vão ficar outra vez em banho maria.
Com mais crise económica ou com menos crise económica, já sabemos de antemão que o futuro Governo socialista vai continuar a posicionar-se à direita, realizando políticas de direita e não atendendo às necessidades e anseios dos trabalhadores e da antiga e já quase inexistente classe média.
A crise económica irá tentar ser resolvida à custa de uma cada vez maior flexibilização das leis laborais, da quase ausência de aumentos salariais, do mais que provável aumento dos impostos, tudo isto dourado com palavras de circunstância para tapar os olhos aos portugueses.
Esta é a práica actual do Governo PS e não creio que, de um momento para o outro, essa prática venha a ser abandonada e seja começado a trilhar um outro caminho político, mais consentâneo com a realidade social do país.
Que me perdoem os meus amigos socialistas, mas a imagem que tenho à minha frente é a de que continuaremos a não ver qualquer luzinha ao fundo do túnel, o que significa que continuaremos a viver uma vida de remediados, com Portugal a continuar na cauda da Europa, com índices económicos e sociais que cada vez vão deixando o país mais distante dos outros países que seguem à sua frente no ranking da Europa dos 27.

Francisco Balsinha

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