quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A mania da pelintrice

Ontem tive o grato prazer de estar alguns momentos à conversa com um amigo querido, meu padrinho de casamento e, ao mesmo tempo, um dos decanos do jornalismo português.
Devo até afirmar, por ser inteiramente justo, que algumas coisas da arte do jornalismo me foram ensinadas por ele, com enorme clarividência e o saber de longos anos de profissão.
A nossa conversa deteve-se primeiro, como não podia deixar de ser, na investidura de Barack Obama como Presidente dos Estados Unidos da América e na esperança que esse facto gerou na América e em todo o mundo.
Outro dos assuntos do dia sobre o qual conversámos teve a ver com a actual crise internacional e a eterna crise que tem tomado conta de Portugal.
Palavra vai palavra vem, demos connosco a avaliar as políticas económicas traçadas por alguns dos governos do nosso país e no quadro económico que Portugal apresentaria hoje, não fosse o caso de terem havido alguns excessos de governação, que afundaram ainda mais "este cantinho à beira-mar plantado".
Entre esses excessos contabilizámos a construção do Centro Cultural de Belém, a realização da Expo98, a construção de 14 estádios de futebol para que o Euro2004 se realizasse no nosso país, tudo isto envolvendo a gastança de largos milhões de euros, considerada supérflua porque qualquer daquelas infraestruturas não foi nem é essencial para o desenvolvimento de Portugal.
Mas gastança megalómana não se fica por aqui.
O Primeiro-Ministro José Sócrates assinou hoje em Espanha documentação que compromete, mais uma vez, os dois países na construção da linha do comboio de alta velocidade.
A par disso, é ainda intenção do Governo construir o aeroporto de Alcochete e a nova ponte Chelas – Barreiro, empreendimentos que serão financiados com recurso a créditos de intituições internacionais, os quais levarão cerca de 15 anos a liquidar.
Se somarmos os gastos dos governos anteriores na construção das infraestruturas atrás mencionadas, aos gastos dos projectos megalómanos do actual Governo, facilmente chegaremos à conclusão que foram e serão ainda esbanjados muitos mais milhões de euros, que não se sabe muito bem como vão ser pagos.
E isto num país que bateu no fundo, onde não há dinheiro para nada, onde o desemprego é demasiado alto e a precaridade também, onde os idosos têm pensões de vergonha para todos nós e onde o crime, a corrupção e o compadrio estão instalados a diversos níveis da sociedade.
Com a previsão de gastos que acima referi, os nossos governantes fazem-me lembrar aquelas famílias onde o pai se veste todos os dias de fato e gravata e tem um belo carro à porta, tudo comprado a crédito, mas dentro de casa os filhos andam mal vestidos e passam fome e já há diversas prestações em acaso.
São os novos ricos que, bem vistas as coisas, não passam de pelintras.
Na política também há gente chegada à pelintrice, que quer deixar obra feita para encher o olho ao Zé Povinho, nem que para isso tenha que endividar ainda mais o país.
Para esses políticos tenho um conselho: se realmente querem deixar obra feita, parem de gastar dinheiro desnecessário e o pouco que se vai arranjando que seja empregue a combater o desemprego, a ajudar as pequenas e médias empresas, a elever as míseras pensões dos nossos velhotes e a combater eficazmente o crime e a corrupção.
Bom, já sei que a adopção de medidas desta natureza não leva ao descerramento público de placas nem a que se tirem fotos de circunstância onde os “pavões” fazem reluzir a dentadura, mas em compensação, ficará a gratidão de um Povo que já não tem esperança no futuro.

Francisco Balsinha

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